A Ilegitimidade do Plano Diretor de
Araranguá
Depois de quase dois anos de intensos
debates e com a participação de dezenas de delegados (as) eleitos (as)
democraticamente nos suas comunidades e participando efetivamente da construção
de um Plano Diretor realmente viável e democrático para o município de
Araranguá, no final da última semana, sexta feira, 14/12, uma notícia bombástica pegou a todos (as) de surpresa,
inclusive o próprio grupo Gestor. A informação foi de que um documento com
aproximadamente 40 emendas, sendo que 25 delas relativas ao meio ambiente, estaria
para ser protocolada na Prefeitura, possivelmente até o dia 17 de dezembro,
segunda feira, e que possivelmente seria apresentado em SESSÃO EXTRAORDINÁRIA na Câmara
de Vereadores no próximo dia 18/12/12, quarta feira, às 14 horas.
O que é mais grave em relação às emendas
é de que os responsáveis pela sua elaboração e protocolamento não respeitaram
os prazos regimentais previstos, sem contar é claro que muitos dos artigos ali
contidos como a proibição da extração de carvão mineral em território
araranguaense foram suprimidos ou vetados pelos (as) próprios (as) delegados
(as) em reuniões ordinárias ocorridas durante os três anos do Plano Diretor, A sociedade araranguaense não pode mais
admitir, que depois de ter
experimentado uma cultura de ditadura por mais de 20 anos, que indivíduos que
estão a frente do comando do legislativo, adotem comportamentos ou posturas
totalitárias, definindo de acordo com seus critérios o “melhor caminho” que a
sociedade araranguaense deverá seguir.
É preciso esclarecer a todos (as) que o
poder legislativo, seus representantes, os vereadores, tem o papel
constitucional de representar os interesses de toda a sociedade, sem
privilegiar indivíduos ou grupos econômicos. O exercício da transparência e da
democracia devem prevalecer em todos os aspectos
da vida pública, cabendo ao poder legislativo dar exemplo, assumindo o compromisso ético e
moral de fazer com que tais princípios norteiem o dia a dia dos (as) cidadãos
(ãs) e das organizações. Porém, o comportamento de membros do legislativo em
sessões ocorridas nos últimos dias, em especial na votação dos projetos do
plano diretor, deixou dúvidas quanto ao comportamento de alguns legisladores,
transparecendo total parcialidade de suas decisões privilegiando grupos de interesses,
apostando na passividade e ignorância da
população araranguaense.
Embora não sendo unanimidade, centenas
ou milhares de cidadãos araranguaenses
ainda acreditam que o poder legislativo araranguaense jamais se
deixará envolver-se por manobras
políticas obscuras, sendo possível dar um voto de credibilidade aos mesmos
admitindo que manterão uma postura de independência e responsabilidade acerca
de seus compromissos com a sociedade. O
caso da sessão extraordinária da Câmara para o dia 19 de dezembro, às 14 horas,
colocaria por terra qualquer certeza de que a câmara de Araranguá seria
incorruptível. No sábado, 15 de dezembro, nas dependências da ACIVA ocorreu
reunião extraordinária envolvendo membros do grupo gestor e alguns delegados
para que fosse discutido estratégias visando convencer os interessados pela sessão extraordinária na
câmara para que revissem tal postura e transferissem para próxima gestão as
discussões e apreciações dos projetos do plano diretor em decorrência da
enormidade de questões ainda pendentes e que necessitavam ser analisados. Sem
contar que temas como Uso e Ocupação do Solo e Mobilidade Urbana ainda não
foram discutidos pelos delegados e considerados um dos mais importantes do
processo.
Depois de quase duas horas de discussão,
Leonardo Tiscosky, Secretário da Administração e coordenador das reuniões foi imbuído
de contatar com o presidente da câmara municipal para que o mesmo fosse a sede
da ACIVA e relatasse de forma detalhada os reais motivos da votação em caráter
de urgência os projetos do Plano Diretor sem que tivessem passado por uma
exaustiva discussão com a sociedade e
discutido em audiência pública.
A espera se prorrogou até o meio dia, não
comparecendo e nem justificando a ausência, deixando ainda mais explícito o
caráter duvidoso da sessão extraordinária da Câmara. Não tendo sucesso a
primeira ação, um plano B foi apresentado pelos presentes, ou seja, a
construção de ofício denúncia a ser encaminhado ao Ministério Público Estadual
solicitando liminar para cancelamento da sessão da câmara, cujos argumentas apresentados foram os seguintes: a)
a tramitação do Projeto de Lei não pode ser sumária e superficial, o famoso
rolo compressor; b) respeitar o processo de participação dos delegados às
reuniões; d) o legislativo precisa estar capacitado e isento para promover
audiências públicas e analisar a proposta de acordo com os interesses
coletivos; e) todas as críticas, sugestões, emendas e propostas devem ser
analisadas e sua inclusão ou rejeição deve ser justificada; f) as modificações
que vierem a ser feitas devem ser coerentes e apresentadas publicamente, com
transparência e o Projeto de Lei deve ser votado em dia e horário que permitam
a presença da imprensa e de todos os segmentos que participaram do processo.
As justificativas apresentadas e bem
fundamentadas, não deixava dúvidas de que seria acatada de imediato pelo ministério
público. No entanto, não foi o que ocorreu, pois segundo seu representante, em
decorrência da enormidade de processos existentes na sua expressiva maioria relativas
as eleições ocorridas em outubro, não haveria tempo hábil para formular
qualquer parecer acerca do pedido. Esgotando as possibilidades com judiciário, outra
reunião foi marcada para terça feira, também na sede da ACIVA, cujo vereador
Eduardo Merêncio (Chico) se encarregou de convidar os demais vereadores para
que comparecessem e tratasse do assunto com os membros da sociedade civil.
Apenas os vereadores Chico e Rony se
fizeram presentes. No encontro foi discutido sobre a possibilidade de quem sabe
na câmara, antes das votações reunir os legisladores e pedi-los que votassem
contra, pois do contrário estariam desrespeitando todo um processo democrático construído
em três anos trabalho.
Para que o projeto fosse recusado seriam
necessários cinco votos dentre os nove vereadores presentes. Havia uma possível
chance de que os vereadores Goto Preto, Anísio, Jacinto, Abílio Pereira e Chico
repudiassem o projeto. Durante a tarde de terça e manhã de quarta feira a Oscip
Preserv’Ação mobilizou seus membros para se fazer presente na sessão, pois
estava na pauta documento com 25 emendas na área ambiental, sendo que a sua
maioria vinculada ao balneário. Quarta feira, 18, às 14:30 aproximadamente, o
presidente da câmara abriu a sessão e, segundos depois, deu por encerrada por
tempo indeterminado.
Os 50 cidadãos (ãs) que se fizeram presentes na câmara, ficaram embasbacados com tal atitude. A
explicação que veio minutos depois de
que o cancelamento foi motivado pela ausência dos vereadores que possivelmente
votaria pela aprovação dos projetos, deixando claro toda a intencionalidade do
ato. Depois de 15 minutos de interrupção, o presidente retornou à câmara reabrindo
a sessão, no qual pediu a palavra o vereador e secretário da câmara Chico lendo
ofício encaminhado ao ministério público estadual solicitando suspensão da
sessão. Da mesma forma o vereador Rony, seguindo o mesmo caminho do seu colega
também encaminhou ofício pedindo suspensão.
De forma categórica, o presidente
desconsiderou os documentos, indeferindo-os e autorizou que fosse dado
sequência a sessão com a leitura dos projetos e posterior votação. O Secretário
Leonardo, como coordenador do Plano Diretor, foi solicitado para fazer uma
breve retrospectiva do processo, ainda não conclusivo, das 66 semanas e 80
delegados, no qual vem resultando na construção do Plano diretor Participativo.
Como sendo um dos interessados na
votação do projeto na sua totalidade, justificou sua posição mencionando as
dificuldades de interpretação do estatuto da cidade que não deixa claro sobre
as necessidades ou não de promover audiência pública para sua apresentação.
Alegou que já teria havido audiência em outra oportunidade, portanto não
necessitaria de promover outra.
O próprio presidente da Câmara concordou
com o argumento do secretário Tiscosky. Porém, é importante ressaltar que tanto
o presidente como os demais legisladores, exceto o vereador Chico, não
participaram das reuniões do plano, salvo uma ou duas talvez. No entanto, se for analisado detalhadamente a
Lei 10.257/2001 )art.40, § 4, incisos I a III); da resolução 25/2005 (art. 4 ao
9) do Conselho das Cidades; e demais ordenamento jurídico sobre a matéria do
Plano Diretor, determinando a obrigação de que as discussões sobre a matéria
sejam as mais transparentes e democráticas possíveis, sendo que qualquer
emenda encaminhada para inclusão no
texto principal deveria ser protocolada e colocada para a apreciação da
sociedade respeitando o prazo regimental de 15 dias para que posteriormente
seja discutida em audiência pública. Também o documento recomenda a contratação
de uma equipe multidisciplinar para avaliar os projetos e sugere que as leis
correlatas sejam votadas simultaneamente, ou seja, em conjunto, pois são
interdependentes e muitas delas não foram apreciadas.
Portanto, qual a razão da pressa em querer
votar um projeto sem que estivesse concluído? No decorrer da sessão
extraordinária os vereadores Rony e Chico procuravam alertar os demais
legisladores de que as emendas encaminhadas
não eram de conhecimento da sociedade, pois as mesmas até às 10 horas da manhã
de quarta feira, dia da votação, não tinham sido protocoladas na prefeitura,
portanto, havia certeza absoluta de que nenhum vereador conhecia o teor das
mesmas.
Depois de lidas a emendas dos quatro
projetos de um total de cinco que compõe o documento base do plano diretor,
como o Código de Obras, Código de Mobilidade Urbana, Código de Posturas e
Código Ambiental, ambos entraram em discussão e posterior votação. Nas votações
dos quatro projetos, os vereadores Anísio Prêmoli, Rony, Gato Preto e Chico, votaram
em favor da rejeição. Enquanto que os vereadores João Abilio e Lulu, ambos do PSD; Daniel
Veriato e jacinto Dassoler, PP e Cabo
Loro, do PMDB, votaram a favor da aprovação do documento.
Durante o processo de votação foram
aprovadas também 11 emendas constitucionais, de um total de 25, todas
relacionadas ao código ambiental. Por que apenas 11 foram aprovadas e não todas
previstas? Supõe-se que o grupo que articulou a sessão para as 14 horas, não
esperava o expressivo número de populares nas tribunas, que pressionavam aos
vereadores e ao presidente da câmara sob
a forma de vaias, repudiando tais procedimentos. Muitos dos
parlamentares que votaram a favor das emendas, na próxima gestão, farão parte
da base de sustentação da próxima administração. Evitar um desgaste maior
talvez tenha sido a melhor estratégia assumida pelos mesmos. Essa hipótese pode ser verdadeira se for avaliada a sessão
ordinária da câmara que ocorreu horas depois quando foi colocado em discussão o
projeto de reforma administrativa da futura administração, que ampliará de 160
para 220 cargos comissionados. Apenas dois vereadores se colocaram contra o
projeto, sendo eles o vereador Anísio e Lulu, os demais votaram a favor a
reforma administrativa.
No entanto, dentro dos princípios da
transparência e da democracia, essa reforma deixou um sentimento de dúvidas,
principalmente quando vereadores, minutos antes, tinham tomado posições de
desrespeito a sociedade araranguaense, votando a favor de um plano diretor que
ainda não tinha sido concluído. Era de se esperar, que o referido projeto,
mesmo não havendo dúvidas quando a sua lisura, fosse primeiramente discutido com
a sociedade, ouvindo-as, acatando sugestões, fazendo valer os princípios da
gestão participativa, principal característica do partido dos trabalhadores,
quando da sua criação.
O que é estarrecedor diante do que
ocorreu na câmara foi o explícito desconhecimento da população e quem sabe dos
próprios vereadores quanto aos projetos que foram aprovados. Se os próprios
delegados, que durante quase três anos participaram discutindo artigo por
artigo cada projeto do código, ainda hoje possuíam dúvidas acerca do texto,
necessitando de uma audiência para que fosse feita uma analise mais sucinta do
documento, imaginem os representantes do legislativo, que não participaram das reuniões e cujos documentos ou emendas
tiveram acesso horas antes da votação.
O processo de votação foi tão patético,
que alguns vereadores não tinham ainda assinado os projetos que estavam sendo
votados, obrigando os funcionários da câmara a levá-los a suas mesas para que
assim o fizessem. Em relação ao código
ambiental, quando das emendas aprovadas, não há conhecimento até o momento no
que representa as mesmas em relação ao projeto que ainda estava sendo discutido
pelos delegados.
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